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A lama do meu quintal 

 

Alan Miranda*

 

Foi num dia de chuva. Talvez seja pretensioso da minha parte afirmar como o Mangue começou. Afinal, o Mangue seria aquelas paredes? As festas? As pessoas com quem se dividia o teto, a comida? Lembrar de tudo nem sempre é possível, talvez nem seja preciso. A memória mora perto da imaginação, às vezes se confunde os endereços. Lembro que a gente morava longe, porque quanto mais distante da universidade, mais em conta era o aluguel. Tínhamos pouca grana. Mas tínhamos uma vitrola, uns LPs e a Tigrinha, a cachorra mais inteligente – e temperamental – do mundo. Nossa telha era de zinco, o calor era como um veterano nosso, nos acordando com a água quente do nosso suor, e nunca fazíamos nada sem escolher o vinil certo para a atividade. Mas por que falar dessas coisas? Melhor seria contar das doideiras, das guerras de melancia, da tequila, da PM, da psicodelia, das histórias, enfim, que fizeram do Mangue um lugar especial para os alunos de jornalismo.

Tigrinha

Seria melhor, apesar de algumas memórias terem razoável nível etílico e outras estarem um tanto desfocadas pela distância no tempo. É que minha veia romântica pede que lhes garanta ao menos isto. Que foi num dia de chuva, em que tínhamos que andar pelos cantos da rua de terra mole, escorregadia, sem calçada onde pisar, e era quase impossível atravessar o mar de lama, chegar em casa sem perder uma havaiana pelo caminho. Chovia, quando aquele lugar deixou de ser chamado de casa ou república, embora o fosse também, e passou a ser sempre referido por todos como o Mangue.

Na foto dos primeiros moradores estamos eu, da turma de 2010; Caio Assis (o dread); Henrique Faerman (o gaúcho); Pedro Monteiro (Pedro Cachaça) e Raphael Peixoto (membro honorário), todos da turma de 2011. Entre idas e vindas, ainda chegariam Gabriela Venâncio (2013), Igor Ferraz (2010) e Clayton Christian (o dezenove), de Belas Artes (2010). Cumprida esta função importantíssima do lide jornalístico, vamos logo para a parte do Mangue como local dos encontros. Frequentemente ,dizem os frequentadores do Mangue, que ele “tinha a vibe ruralina”.

Talvez tenham razão. Lembro de ter ouvido de um professor no pré-vestibular uma de suas aventuras ruralinas, nos tempos universitários: junto com colegas do curso de Física, afanou um bezerro do curso de Zootecnia, uns etílicos do laboratório de Química e patrocinou um churrasco pra comemorar sei lá o que. Uma aplicação prática de interdisciplinaridade! Comparado a isso, nossa aventurinha chega a ser infantil. Mas Caio considera que foi assim que o Mangue começou, com o surrupio do banco do Nogueira. Nas palavras dele: “O banco do Nogueira, assim como a gente, fez o trajeto ICHS-Mangue pela ciclovia, andando, acompanhado de pessoas do curso. Eu e Pedro Cachaça levamos o banco depois de você e Raphael darem o positivo, dizendo que haviam conversado com o diretor do instituto, que supostamente era o responsável pela Kombi de origem do banco. Então nós fomos, por três quilômetros, passando pelo P1 (prédio principal), lago, ciclovia, com o banco nas costas. No caminho, tomamos uma dura dos guardinhas, mas por sorte estávamos calçados com o argumento de que o Nogueira, diretor do ICHS, tinha autorizado. Assim como vocês convenceram a gente de que o diretor tinha autorizado, a gente convenceu o guardinha (risos). Descobri que o Nogueira nunca tinha autorizado nada, muito tempo depois.”

Primeiros moradores

Em nossa defesa, eu e Raphael chegamos a procurar pelo diretor no ICHS, mas como ele não estava, resolvemos acreditar que alguém tão gente boa como o Nogueira certamente teria feito aquela pequena doação com grande generosidade, se tivéssemos a oportunidade de lhe fazer o pedido.

Realmente é coisinha besta essa história. O banco talvez nem fosse reaproveitado na universidade. Mas se o fosse, é bem provável que não sobreviveria nas lembranças de ninguém. Para nós, o banco do Nogueira não foi só um banco. Ali não viveu seus dias como simples utensílio da máquina pública. Foi parte do Mangue. Recebeu visitas ilustres e indesejadas, descansou pés de artistas e minhocas, acolheu cachorros e atletas, não fez distinção de gringos e operários. Ali aconteceram muitos papos que o vento levou com a fumaça, mas também palestras memoráveis. Sobretudo com nossos locadores, Fátima e Técio – grandes mestres –, sobre as coisas da vida. Ela devia ter uns 50 e poucos anos. Se bem que pudesse estar já na casa dos 60 e só parecia rejuvenescida pelo brilho refletido na negrura e rigidez de sua pele. Técio não chegava a 40 anos. Era forte que nem um cavalo.

Fátima nos contava o que existia naquele lugar – agora nosso lar – antes do número de universitários aumentar consideravelmente, e estimular o avanço do setor imobiliário em Seropédica: “Era tudo pasto, roça…”, “a gente corria descalço atrás do boi”, “na rua aí de frente passava um rio…”, e nos deixávamos levar por aquela névoa do tempo, numa viagem que derrubava as paredes do Mangue, a telha, o piso. Só ficava a terra, a chuva, a lama.

Técio também nos fazia viajar. Os assuntos geralmente eram seus trabalhos, principalmente os que lhe davam mais orgulho, como a construção daquela casa. Não via a hora de construir outra no andar de cima para receber os universitários que não paravam de chegar. Dizia ele que as colunas de madeira que sustentavam as telhas do nosso quintal eram de uma árvore tão poderosa que podia tacar fogo, serra elétrica, furacão, terremoto, podia o Bruce Lee tentar, mas não tinha jeito de derrubar aquilo. Sem contar quando descolávamos um vinil novo de rock e ele descia para escutar conosco seu gênero preferido. Ah, quanta coisa! Como nossa vidinha era simples e boa.

Guerra de melancia no Mangue

Era um casal bonito. Fátima se parecia tanto com nossa mãe. Quantas vezes lavou, passou e dobrou nossas roupas sem ter a menor obrigação? Serviu-nos comida, dividiu com a gente o litrão de Itaipava. Sempre que tinha festa no Mangue, fazíamos questão de subir algumas cervejas pra ela, que morava na casa de cima. Técio não bebia. Certa vez – tínhamos uns dois anos de casa – a encontramos no bar do Mazinho, já chapadinha. As gargalhadas entre as falas estavam mais soltas que o normal. Usava óculos escuros, embora a lua estivesse alta. As gargalhadas escondiam tristeza, os óculos, um machucado no olho esquerdo. Briga de casal. Ficamos tristes. Estávamos eu e Caio. É muito ruim ver um machucado em alguém que você gosta, parece que a ferida dá uma fisgada dentro da gente. Ela disse que não queria saber de polícia. Bastou nos contar alguns segredos constrangedores do marido, tomar umas boas cervejas e expulsá-lo de casa. Além de devolver o roxo ao olho dele, saberíamos mais tarde ao encontrá-lo na rua. Meses depois eles reataram. E Técio voltou com as palestras no banco do Nogueira, nosso primeiro móvel. Aliás, era mais que isso, era nosso cantinho amigo. Futuramente chegariam outros aparatos que deixariam o Mangue com mais cara de lar, só que as festas vieram antes.

O Mangue não era nenhuma república fodona, tipo “Éramos 4” ou “Optativa”, bem situada, que tinha pitbull tomando conta do quintal, DJ nas chopadas, banda ao vivo, abadá, pulseirinha… Mas a gente tinha a Tigrinha (a cachorra mais companheira do mundo). E dava festa. Basicamente era a festa do vinil, que eventualmente servia como boas-vindas aos novos alunos de Jornalismo. Eles se mergulhavam na intimidade penetrável de nosso lar e encontravam, na medida de nossas limitações, carinhosa recepção.

Nosso curso era novo na Rural, então havia a expectativa quase maternal de receber os novos colegas. Conforme chegavam as turmas, nossa família se tornava um clube. Não, uma torcida de time do interior, uma agremiação de escola de samba que deve gritar e provar, para todos, que são os melhores, os mais descolados, os mais festeiros, fanfarrões, gastões, beberrões e claro, mais cultos, como todo bom jornalista (pensa que é).

Existe uma “foto histórica”, que reúne pelo menos quatro turmas do curso na festa de integração dos bixos de 2013. Arriscaria dizer que a turma de 2012 foi a mais presente, ou barulhenta, ou empolgada, nas festas do Mangue. Se bem que posso estar cometendo injustiça com a turma de 2011. Lembro bem do João Pedro servindo komaroff gritando tequila, cantando o funk das novinhas quando arranjamos um microfone; do Victor Viana preparando o drink da melancia ou sentado na tina até que a cerveja gelasse; do Victor Sena ciceroneando ora uma mexicana em intercâmbio, ora uns graduandos de jornalismo da UERJ. Pensando bem essa turma também era “grande presença”. Sem falar nas “Fanfas” da minha turma (2010) que iam a absolutamente todas as festas da Rural. Bom, melhor evitar comparações.

Foto “histórica”:  Festa no Mangue

Acontece que me recordo da Paula Giffoni, Paulinha para os mais chegados, da turma de 2012, em todas as festas no Mangue, desde que entrou na Rural. Também porque além de comparecer, ela sempre arrastava um bonde de amigas de outros cursos, seus primos de Barra Mansa, seu irmão Danilo da UFF. Inclusive, acho que ele foi o primeiro que vimos chegar de carro ali no Mangue. Até nos deu carona para comprar mais cerveja nessa primeira visita. Como esquecer? A meu ver, as memórias de Paulinha são indubitavelmente confiáveis: “Foi a primeira festa de república que fui, com vinil, quadro de cantor na parede. Isso me inspirou a amar vinil e querer ter. Lembro de um quadro muito lindo do Chico no banheiro, só esqueci o que tava escrito. Foi muito importante para unir as turmas. As três primeiras foram bem próximas graças ao Mangue, coisa que não aconteceu depois, com os outros períodos. A gente se conheceu muito nesses encontros e até hoje quem viveu esses momentos tem essas lembranças de MPB, cultura na parede e muita gente boa ao redor. Que saudades eu sinto”.

Confesso que a saudade também me arrebata quando retomo esses dias gloriosos. Posso ao menos consolar minha amiga na lembrança do quadro do Chico, presente do querido Rapha. Estava escrito: “mesmo que os cantores sejam falsos como eu, serão bonitas, não importa, são bonitas as canções, mesmo miseráveis os poetas, os seus versos serão bons”.

O Mangue tinha mesmo uma vibe cult, mas sabíamos, já naquele tempo, que cult demais também fica careta. Tínhamos paúra da caretice. Já pensou, tomar esporro do Caetano que nem o povo da USP em 68? Tá doido! Queríamos que o Mangue fosse grande pra caber nossa vontade de liberdade. Amávamos a liberdade. O que inevitavelmente gerava transtornos, como lutas contra fungos mutantes e jornadas profundas pelo resgate de talheres em louças radioativas. Mas logo percebemos que nosso convívio seria mais viável nessas condições que no rigor do cumprimento das regras. Resolvemos adotar uma regra única: “Proibido proibir”. Inclusive (e talvez principalmente) em dias de festa. Acontecia muito de acordarmos e dar de cara com rostos inesperados, conhecidos ou não. Apareciam de manhã no sofá, no banco do Nogueira, ou até mesmo nos quartos, abraçados com a Tigrinha. Alguns se tornavam bons amigos como Gabi Venâncio que, não fosse a sensação de perder um pedaço da memória, poderia dizer que já no dia seguinte amanheceu como a nova moradora do Mangue. Nessa época, Pedro já tinha se transferido para a Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e Caio passou a dividir um quarto com os novos colegas de alojamento. Mas compareciam às festividades sempre que possível.

Nossas geladeira e dispensa eram regularmente assaltadas durante a folia. A galera da larica comia Nescau sem leite e não perdoava nem miojo cru. Aprendemos a nos acostumar. Só ficávamos preocupados quando a geladeira velha, que tinha só uns pães pra tirar o mofo, amanhecia vazia. Além disso, qualquer um podia escolher livremente um disco para tocar na festa, desde que soubesse ou aprendesse a manusear aquela antiga tecnologia. Era hilário vê-los descobrir que a vitrola emitia som direto da bolacha mesmo com os alto falantes desligados.

Recordo agora de uma festa em que resolvi assumir sozinho a discotecagem por um período. Toquei músicas de Madonna, Michael Jackson e remixes de Beatles e Bee Gees, caçadas em coletâneas. Mas o ápice foi revelar minhas pérolas do Raça Negra. Quanta emoção! Que nível de alegria! Geral curtiu. Há quem vá dizer que essa playlist já era cult na época, mas levemos em consideração o instinto anti-imperialista do Mangue e o frenesi com que os convivas descobriam os tropicalistas dentro da nossa discoteca. Não é de se admirar que festas pudessem varar madrugadas apenas ao som de Novos Baianos, Jorge Ben, Secos e Molhados, Tim Maia, Gil, Chico, Belchior…

Nunca tivemos o privilégio de receber nossos queridos professores no Mangue, embora a singela homenagem em forma de tirinha no azulejo da cozinha evocasse a presença deles, com grande afeição e bom humor. No entanto, outras visitas ilustres nos deram o ar da graça. João Francisco Alves, o nosso querido Chicão, hoje doutorando, era então graduando do curso de História, mas já gozava fama de boa praça, conhecido por tantos naquela universidade. Quando eu conheci o Chicão, ele era veterano, mas só fui descobrir isso por terceiros. Ele era tão curioso sobre nós, com sua fala terna e amistosa. Enchia nossos copos de cerveja, enquanto nos perguntava o que achávamos do cenário do jornalismo brasileiro, das nossas expectativas com o curso. Parecia tão deslumbrado quanto nós bixões. Uma vez ele resolveu comemorar a festa de aniversário numa república com um quintal bastante espaçoso e a gente do Mangue não aguentou ficar porque não dava nem pra chegar até o bar, de tão cheia que estava. Fomos beber no bar do Mazinho e lá estava o Chicão, tomando uma cerveja e conversando com uns bixos recém chegados.

Homenagem a Gastaldo e Rejane: registros do Mangue

Foi um personagem que marcou presença em boa parte das festinhas do Mangue, além de eventualmente participar das tardes preguiçosas em que gostávamos de fazer nada. “Minhas memórias do Mangue são incríveis. Lembro das festas, dos papos cabeça e até dos momentos para ‘cocebar’. Risos. Óbvio que todas idas lá no Mangue eram marcadas por uma tensão chamada ‘Tigrinha’, cachorrinha invocada. A casa era sonora, no estilo mais hipster, o som de vinil ecoava pela sala.” Chicão nunca se esquece de quando voltava de uma dessas festas e ainda naquela rua se deparou com um unicórnio. Ele se acaba de rir quando lembra do fato, porque hoje diz que viu na verdade um cavalo. Que alma modesta! Pois todos sabem que unicórnios e criaturas mágicas, apenas se revelam para seres de alma sensível, de coração manso. Não sou capaz de duvidar de tal revelação, ainda que meu amigo duvide.

Mesmo porque o Mangue, apesar de ser um lugar pacato na maior parte do tempo, também guardava mistérios. Às vezes, acontecia de desligarmos a vitrola para escutar a noite e era possível imaginar os seres que se moviam por dentro das árvores, do breu e da terra que nos cercavam. Alguns sons naturalmente reconhecíamos, eram humanos falando com deuses. Às terças e quintas, Cristo era louvado com pandeiros, cantos e afoxés numa capela improvisada no quintal de um vizinho à extrema direita do Mangue, quase na esquina. Sextas e dias santos, choravam os tambores do candomblé, um pouco mais próximos, duas casas a esquerda da nossa. Ouvíamos da varanda, mas era bom pegar uma cadeira e fumar um cigarro debaixo das estrelas, à beira da rua, para ouvir mais de perto os cantos que os deuses ouviam. O Mangue tinha essas brasilidades.

Também contávamos com a companhia de três árvores especiais: um ipê encantado, no vizinho da esquerda, que florescia rosa sempre que uma alma perdida buscava o rumo do Mangue; um pé de maritacas na casa de cima, que coloria nossas tardes tranquilas e um mamoeiro no vizinho da direita. Ah, se aquele mamoeiro falasse… Contaria essa história bem melhor que eu. O mamoeiro, desde que nos mudamos, deu para tombar para o lado do muro que era nosso quintal. Oferecia espontaneamente seus mamões maduros e, de vez em quando, cá entre nós, o mamoeiro falava sim. Era capaz de narrar com os detalhes mais espantosos e inimagináveis toda a festa do dia anterior, que acontecia ao pé de sua cabeleira. É pena que… Mas que bobagem estou dizendo? Parece que só de entrar nessas memórias, nossa sobriedade vai ficando comprometida. Estou já imaginando coisas. Trocando sonhos por lembranças.

Sinto que ocupei demais a atenção do leitor com saudosismos particulares. Seria canalhice jornalística de minha parte encerrar estas linhas sem lhes contar sobre a história da melancia e seu criador, Victor Vianna (2011), uma das figuras que mais orgulhou e representou o espírito e imaginário do Mangue mundo afora. A ideia surgiu quando a turma deles decidiu fazer a “festa de final de ano” no Mangue. Eu e Caio só chegamos no bagaço da melancia porque estagiávamos à tarde e essa festa aconteceu excepcionalmente nesse horário. Aliás, é melhor que o próprio Vianna conte essa: “A Dani Vianna postou um vídeo de um cara que fazia drink com uma melancia inteira. Todo mundo curtiu a ideia e ficou naquela de ‘e aí, vamos fazer?’. Como eu queria me enturmar, combinei de levar a melancia, mas acho que ninguém levou muita fé. Bom, eu não só levei a fruta, como trouxe da Taquara. De cara, isso já deixou todo mundo surpreso. Então, querendo ou não, por conta do meu esforço, ficou decidido que o drink ia sair. Como o drink, no final, virou uma grande mistureba de bebidas, todo mundo ficou muito louco e acabou rolando a tal guerra de melancia na cozinha do Mangue. Apesar da bagunça, o saldo foi positivo e a gente decidiu que ia fazer essa brincadeira mais vezes. Eu cheguei a levar melancia pra outras festas e fazer toda aquela farra que era preparar o drink e servir. O feito se popularizou entre o pessoal do curso, e chegou num momento que eu não precisava mais levar, a melancia virou presença garantida”.

É engraçado reparar como o grande desafio da humanidade se apresenta a cada geração. Sempre o mesmo desde os mais remotos ancestrais, e nunca igual. Todos desejam socializar. Na universidade pública, a maioria dos alunos acabou de sair do ensino médio. Lá chegamos ainda fedendo à uniforme escolar, com as velhas preocupações adolescentes de aceitação. Pisamos com cautela, ou pior, com insegurança o solo da vida adulta. Queremos fazer parte da galera, mesmo que a ansiedade nos omita que talvez ainda nem exista galera alguma.

Não quero contar vantagem por ter sido morador, mas, verdade seja dita, o Mangue foi o arauto da socialização nesse curso. Fomos sempre bem sucedidos no compromisso de jamais permitir que nenhum convidado se despedisse sóbrio. Mas, assim como todo Carnaval, o nosso teve seu fim. Antes mesmo de concluirmos a graduação, o Mangue foi acabando, após seus membros partirem, um a um, em busca de novos ares e desafios.

O primeiro a partir foi Pedro. Penso no nosso jeito de afogar aquela mágoa de saudade num LP de Raul Seixas. Ouvíamos, repetidamente, a música “Meu amigo Pedro”, e cantávamos em coro quando a canção dizia “Pedro, onde cê vai eu também vou”. Nessas horas acho graça das peças que o tempo nos prega e lembro que é preciso sempre desconfiar dos poetas demasiado realistas. Pedro dividiu o teto conosco por não mais que um período. Ainda assim, suas palavras me botam comovido até o fundo de mim, onde guardo o sentimento da amizade. Que coração mole o meu. Mas que coração não amolecia, ao sentir que possui as graças do coração amigo, como sinto nestas palavras? “Foi muito bom enquanto durou pra mim. A gente tinha uma pegada de não se importar muito com as coisas, num sentido bom. O que eu trouxe pra minha vida dessa época foi como em pouco tempo, no meu caso, eu consegui criar amizades fortes que me marcam pra vida toda. A gente morava com zero luxo, mas conseguia fazer valer a pena. Sei lá, acho que de todos os lugares em que morei durante meu período de faculdade, com certeza, eu fui mais feliz lá. E não tinha tanta coisa, só tinha a gente”.

Meu amigo tem razão, não tinha tanta coisa. O que me faz pensar ainda numa terceira versão que Caio me contou para o início do Mangue. Como ele não participou da integração-trote dos bixos e começou a frequentar as aulas a partir da segunda semana, tinha a sensação de que todos já se conheciam, e ele era o “excluidão”. Sacou uma velha estratégia para puxar assunto. Um dia, deixou o isqueiro em casa e foi para Seropédica só com alguns cigarros. Assim que avistasse um doidão fumando, chegaria junto e pediria um isqueiro. Assim fez. “O cara respondeu que só tinha isqueiro de pau”, oferecendo a caixinha de fósforos. “Esse doidão era o Rafael Peixoto”, relembra Caio. “Se a gente parar pra pensar em pessoas que se reuniriam em torno de uma conversa que começou com um cigarro, acho que não chegaríamos a muitos nomes além de nós: eu, Peixoto, Cachaça, você e o Henrique. O Mangue, pra mim, começou ali no ICHS, com a pergunta que fiz para o Rapha”.

Sou inclinado a crer que foi assim mesmo.

Eu não disse que não era preciso definir o início de tudo? Melhor seria se aquele mamoeiro falasse.

 

Conversa de botequim

 

Alan Miranda

 

João: Marcelo, me vê uma Serra Malte aí.

Marcelo: Tem não. Não tão entregando.

João: Alice, não tem Serra Malte. Pede qual?

Alice: Pede uma Original. Quanto tá mesmo?

João: Relaxa. Caiu uma merreca do estágio. Vou pagar essa. Mas tá R$8.

Alice: Por falar em estágio, como tá esse negócio do pagamento?

João: Então, amiga, jornal regional é complicado. Eles são muito dependentes de político. Agora o diretor arrumou uns anúncios grandes com uma prefeitura e conseguiu pagar esse mês e o atrasado. Os anúncios de comércio não cobrem tudo que se gasta. Tá pra começar período de campanha eleitoral, aí os caras já tão se preparando, né? Como a coisa lá tá assim assim, meio instável, eu já tô tentando me adiantar com essa bolsa de iniciação científica. O aluguel lá da república vai aumentar também. E tu? Acha que mandou bem no texto pra seleção da bolsa?

Alice: Ih, fui muito mal. Isso do estágio no centro do Rio me destrói. Acordar todo dia 4h30 da manhã, chegar aqui lá pelas 17h. Não consegui ler o texto direito, não tive tempo. E sem contar que o texto é difícil para caramba. E você?

João: Eu acho que mandei bem. Meti um atestado e passei o dia nessa missão. Teve um texto do Agambem que me ajudou um pouco a entender. Acho que quando tem alguém comentando esses textos mais densos, facilita o entendimento, sei lá, amplia a percepção.

Alice: E esse povo acadêmico gosta de falar difícil também.

João: Pois é, tem isso. Mas na real, nessa leitura dele, tem uma hora que ele fala da ironia do Foucault na hora de responder a galera. E tu sabe que eu adoro um deboche, uma ironia. Isso me prendeu. Do jeito que o Foucault propõe essa análise, ele tá sempre falando do sujeito, e parece mesmo que ele tá anulando o sujeito, com essa parada de função-sujeito. No final do texto tem umas perguntas que fazem pra ele, os intelectuais tavam meio bolados com as proposições. Pô, os caras mataram Deus pra inventar essa porra de sujeito, agora esse careca vem matar o sujeito. Pera lá! Mas aí ele responde algo tipo “definir como acontece a função-autor não é dizer que o autor morreu. Os viúvos podem guardar o lenço” Hahaha. Falando assim é meio confuso, mas eu acho que esse Agambem foi tipo um óculos pra minha leitura.

Alice: Pode crer. Que bom, amigo. Depois me passa esse texto. Tem pdf?

João: Hmm, pdf eu não tenho, mas posso tirar xerox no ICHS pra tu.

Alice: Ah, valeu. Vou até pegar mais uma lá.

João: Demorou!

João: Ih, olha só quem chegou!

Chicão: – E aí, meus queridos. Vocês batem ponto aqui mesmo, hein?

Alice: Chegou na hora boa! Tô indo pegar uma cerveja.

João: Fala, meu camarada. Pior que não, nego. É o bom destino que atrai nossos acasos. Eu sou mais um cara do Mazinho. Você é quem manda nisso aqui.

– Pô, gostei de ver. Tá inspirado, mano.

João: Senta aí e bebe umas com a gente que você vai ficar também. Hahahahah

– Pô mano, eu ia só dar uma passadinha pra comer aquele X-tudo especial do Marcelo. Perdi o bandéx. Nem tava muito na pilha de beber hoje, mas com essas companhias, esse convite, acho que vou aceitar.

João: É isso. Já pediu?

Chicão: Já.

João: Puxa uma cadeira aí.

Alice: Olha ele aí. Grande Chicão!

Chicão: E aí, Alice, beleza?

João: Mas por que tu não bandejou? Tava preso com a gatinha?

Chicão: Pô, quem dera. Tava escrevendo um trabalho, que era pra entregar hoje, até as 20h e fiquei fazendo até quase agora. E vocês, foram no Cine Casulo?

João: Não, tinha uma palestra do curso de jornalismo.

Alice: De um cara falando umas coisas interessantes: Maurício Barros o nome dele. Ele é repórter do National Geografic, doutor em História. Enfim, um currículo boladíssimo. Falou sobre essa coisa da escrita etnográfica e tal. Mas aí, no meio da palestra ele cita, como quem não quer nada, que escreveu um livro sobre o Zicartola! Eu só queria entender por que a palestra não foi toda sobre isso.

João: Eu também não tava muito ligado no que era, cheguei achando que ia pra aula e era palestra. Mas quando ele falou não sei o quê Cartola, eu acordei.

Chicão: Caramba, véio. Que massa!

Alice: Agora você imagina um bar como o Zicartola? Eu gosto muito aqui do Marcelo, cerveja sempre gelada, esse climinha bom da noite na Rural, e a possibilidade de sempre encontrar um amigo. Mas aqui não tem música e isso faz muita falta.

Chicão: Ah, é. A não ser quando o povo da capoeira desce com os instrumentos pra fazer um pagode aqui.

João: Pode crer.

Alice: Verdade. Mas aí tem que dar sorte.

Chicão: Pois é, ou então ser atraído pelo destino… dos acasos? Como é que é mesmo, amigo? Fala aí.

João: Ih mano, já foi, poesia de bar é alcoólica, evapora rápido. Mas é por aí. Hahaha!

Chicão: Boa. Mas o Cartola é sensacional, mesmo, né? Pena que o bar não deu muito certo, já pensou poder ir lá hoje? Parece que os amigos sambistas viviam pendurando conta e a parada acabou falindo. Esse povo bebe firme. Vocês dariam conta de administrar um boteco recebendo vários artistas fodas pedindo fiado com violão na mão, com aquela lábia, aquela manha de compositor?

Alice: Eu não. Mas já pensei em livraria. E também deve ser difícil de administrar, desapegar e vender os livros que tu gosta.

João: É, também não sei se daria conta. Engraçado que artista não se reúne em livraria, galeria, né? É sempre bar ou cafeteria. Tem que ter um aditivo.

Chicão: É verdade.

Alice: Pô, foi no Zicartola que o Paulinho da Viola tocou em público pela primeira vez! Imagine esse lugar! Quem não ia querer ir lá todo dia? Aí, só pendurando mesmo.

João: Paulinho é outro que derrete meu coração. Que homem!

Chicão: Nem fala.

Alice: Cês tão ligados nessa música “Coisas do mundo, minha nega”? Estou viciada!

Chicão: Não sei se tô ligado nessa.

João: Canta um trechinho aí

Alice: “Hoje eu vim, minha nêga, como venho quando posso, na boca as mesmas palavras, no peito o mesmo remorso, nas mãos a mesma viola, onde gravei o seu nome…”. Mas a parte mais incrível é o final: “as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender, as coisas estão no mundo só que eu preciso aprender”. Isso é muito lindo, minha nossa.

João: Lindo.

Chicão: Lindo. Eu tô ouvindo muito aquele disco dele de 81, não lembro o nome, mas tem aquela assim “Quem sou eu pra viver sem madrugada? Quem sou eu pra viver sem violão? Quem sou eu pra esquecer o que passei no tempo em que andei com você no coração?”

João: “Quem sou eu?” Hahahaha. Eu casava com o Paulinho da Viola!

Alice: Mas eu fiquei tão fissurada em “Coisas do mundo”, que dei uma pesquisada. Aí achei um artigo de um professor do curso de letras da Rural, o Bozzetti, vocês tão ligados?

João: Não.

Chicão: Tô ligado não, quem é?

Alice: Então, é sobre essa música. Comecei a ler, mas ele destrincha a letra da música, sabe, pega cada parte, conta uma história… Achei que estava perdendo o encanto com a música de tão fundo que estava indo. Aí parei. Deixei pra lá. Melhor ficar só com a emoção mesmo.

João: Pode crer. Esse negócio de destrinchar a obra, às vezes pode encaretar a poesia, né? É que nem o Manoel de Barros fala: “tinha uma cobra de vidro que fazia a volta atrás de casa. Veio uma mulher e disse, isso é uma enseada. Acho que a palavra empobreceu a imagem.” Acho que é mais ou menos isso, sempre recito os poemas errado, gente. Desculpa aí.

Tomás: E aí pessoal, tá rolando um sarau aqui? Essa Rural é muita cultura mesmo.

Alice: Caramba, nem te vi chegar!

João: Fala bixão. Tranquilidade? Tamo só curtindo uma brisa.

Chicão: Fala aí. Legal?

Tomás: Ai gente, eu tava com uma amiga fazendo nosso trabalho de um seminário pra apresentar amanhã. Mas já tava dando parafuso. Vim aqui pra ver se dava uma espairecida, ouvi essa poesia e vi que eram vocês. Posso sentar aqui?

João: Claro! Senta aí… Ih essa aqui chorou.

Tomás: Olha eu tenho dinheiro pra pagar uma só. Nem vou ficar muito. 

Chicão: Eu pego essa. Vocês tão bebendo Original, não curtem Serra Malte?

Alice: A gente curte, mas não tem.

Tomás: Aí, de quem era esse poema que você tava recitando?

João: Não era o poema. Foi só um trecho. Mas é do Manoel de Barros. Tá ligado?

Tomás: Pior que não, mas achei bonito. Vou procurar.

Chicão: Aí, eu conheci Manoel de Barros por vocês, jornalistas: li uma matéria falando do filme “só dez por cento é mentira”, que é sobre ele. Cês tão ligados? Eu vi, é massa, daí fui procurar uns poemas dele também. E a Eliza Lucinda tá no filme. Ela se amarra nele, e se ela falou tá falado!

Tomás: Caramba! Quero ver esse filme. Será que tem no Youtube?

Chicão: Acho que sim.

Alice: Ah, mas falando nisso, vocês viram que tem uma banquinha agora no ICHS vendendo uns livros maneiros? Tem até aquela coletânea do Leminski, que você tava falando, João.

João: Ih, amiga, essa coletânea é meu sonho, mas tava umas 80 pratas. Eu só compro livro em sebo. Ah, se liga, quase esqueço de te mostrar. Olha esses que eu achei num sebo lá em Coelho Neto. Paguei 30 nos três: esse de crônicas do Rubem Braga, Casa Grande e Senzala do Gilberto Freyre e o México Rebelde. Estou pensando em fazer o trabalho de Jornalismo Literário sobre ele.

Alice: Pô, maneiro. Só conheço  o outro livro do John Reed, o “Dez dias que abalaram o mundo”.

Chicão: Já li alguma coisa desse livro do Freyre. É bem massa. Meio polêmico. Mas vale a leitura.

João: É, tô ligado que tem umas críticas sobre ele relativizar o racismo no Brasil.

Chicão: Isso. As críticas são sobre o mito da democracia racial. Mas mesmo se for pra discordar ou criticar é bom saber dessas narrativas sobre a formação do país.

Alice: Total. Ainda mais que a nossa educação sobre a história do Brasil, de um modo geral, é bem precária né. Pelo menos pra mim foi.

João: Sim. Pra mim também.

Chicão: Aí, gente, licença. Vou no banheiro. Caramba, a gente já tomou 4… 5, 6… 8 cervejas?

Bela: Oi, gente. Boa noite. Tudo bem? Desculpa atrapalhar. Tô vendo que vocês tão aí no maior papo maneiro, nesse climinha da Rural… 

Chicão: Oi Bela, beleza? Eu já volto.

Bela: Fala Chicão. Beleza. Mas então pessoal eu tô vendendo uns brownies veganos, feitos com 30 por cento de cacau, leite de aveia, nozes e muito amor. Um docinho vai bem depois, hein. Vocês estariam interessados?

João: Eu tô de boa, gata. Valeu.

Alice: Eu vou querer dois.

Bela: Opa. Tá aqui.

Tomás: Eu também tô desprevenido.

Bela: Esse aqui é o do Chicão. Será que ele demora?

João: Ih, o Chicão é meio popular. Ele não vai até o banheiro que nem a gente. Ele percorre uma via, saudando o povo.

Alice: Pior que é mesmo. Aqui, deixa que eu pago o dele, depois a gente acerta.

Bela: Poxa, gratidão, flor. Valeu mesmo. Boa noite aí pra vocês, galera. Tchau.

Alice: Que nada. Brigada você. Tchau.

Tomás: Pô, aqui na Rural, apesar de ser universidade pública, tem uma galera que é maior correria, né? Fazendo artesanato, vendendo doce, salgado… Eu tô pensando em fazer isso também, sei lá, vender umas trufas, pelo menos até arrumar um estágio.

João: Pode crer. No meu primeiro ano, eu trabalhava na Barra da Tijuca, como técnico em eletrônica e tava morando em Palmares, na casa do meu irmão. Mas o ritmo tava bem puxado. Tava deixando a desejar no trabalho e no curso. Tive que pedir demissão e me mudar pra cá.

Alice: Poxa, essa ajuda dos familiares é fundamental, né?

Tomás: Total. Eu consegui vaga no alojamento, vou no bandejão todo dia, mas mesmo assim, se não fosse a ajuda da minha mãe, não sei se ia dá pra me manter aqui. Tem várias outras despesas.

Alice: É verdade. Pior que depois que comecei no estágio, nem consigo mais bandejar. Aumentei a renda, mas agora tenho mais gasto com comida também.

João: Eu também já entrei trabalhando. Quando mudei pra cá, fui morar no Nove. Os horários não batem com os horários do bandejão. 

Alice: Às vezes parece que a Rural não é muito favorável pros cursos noturnos.

João: Pois é. Quem janta 17h? Bem que o Foucault fala que escola é igual presídio.

Alice: A questão da segurança aqui, de noite, principalmente pra mulher, eu acho meio precária também.

Chicão: Fala galera, desculpa a demora.

João: Olha ele aí, que coincidência. O papo já tava em política e volta o político da Rural.

Alice: Muitos eleitores no caminho, amigo? Hahaha. Aqui seu brownie. Tá pago.

Chicão: Pô, que nada galera. Valeu, Alice. Encontrei uns amigos ali. Mas aí. Se liga, eu tava falando com a galera ali eles tavam dizendo que vai rolar uma festinha com vinil depois de amanhã. Deve ser no Mangue, né? Vocês tão ligados?

João: Pode crer. Acho que ouvi alguém comentar.

Alice: Eu não tava sabendo, mas se tiver, vou com certeza. To precisando de uma festa. E as de lá eu nunca fui, mas dizem que são boas.

Tomás: Minha integração foi lá. Acho que foi maneiro, mas não me lembro de muita coisa. Acordei abraçada com a Tigrinha.

Alice: Saudade da época que eu podia curtir minha ressaca. Agora quando faço essas loucuras de chapar numa festa, o que raramente tenho feito, acabo indo trabalhar meio bêbada ainda.

Chicão: Ou virado.

João: Também já fui pro estágio bêbado.

Chicão: Mas ainda bem que tem as festas, né, galera? A gente precisa se divertir também, senão surta.

João: Com certeza! “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão, balé”

Alice: Pelo menos disso a gente não pode reclamar. Tem festa pra caramba na Rural. Sem contar que a gente conhece um povo de vários lugares também. Gosto disso.

Chicão: E bar pra caramba em Seropédica!

Tomás: Um brinde.

João: Só faltou o balé.

Tomás: Mas, às vezes, nesses papos de boteco, eu acho que aprendo muita coisa também. Com as trocas. A gente podia ter aula no Marcelo, né?

Chicão: Introdução à filosofia de bar.

João: História Social da cerva.

Alice: Ia ter aquele livro na bibliografia: “Para ler o bar e o dono”, de Ariel Brahman Extra e Armand Serramalte

Chicão: Hahahaha. Boa.

João: Parece que a gente já vai sair graduado. Marcelo já tá querendo recolher as mesas.

Alice: Negócio é que tá tardão.

João: Nem sei se rola mais carona pro nove.

Alice: E eu nem sei se tô aproveitando bem o fato de morar perto do Marcelo. Hahhahah.

Tomás: Se quiser eu arrumo um jeito pra tu cair lá no meu quarto, João.

Chicão: Eu vou partir pro nove também. Vamos tentar a carona, se não a gente vai andando mesmo.

João: Valeu, Vini. Mas amanhã vou pro estágio cedão. Melhor acordar em casa. Vou bem acompanhado.

Alice: Eu também vou sofrer pra acordar. Mas fazer o quê? Preciso dessas preciosas Dilmas pra sustentar minha graduação em jornalismo, com especialização em cultura de boteco.

Tomás: E eu não perco o bandejão.

Chicão: Nem eu.

João: Mas a noite foi maneira. Deu pra espairecer, bixão?

Tomás: Super.

Chicão: Verdade. Eu não ia demorar, mas foi bom passar esse tempo com vocês.

Tomás: Da próxima vez trago um caderno pra anotar essa cultura toda. Dava pra escrever os diálogos de vocês, mas aí vou chegar mais cedo.

João: Não precisa. Melhor você só ir aproveitando e guardando tudo na memória. Depois você escreve das lembranças.

Tomás: Mas aí, eu esqueço.

Chicão: Não tem problema. Faz que nem o Manoel de Barros.

Alice: “Quem descreve não é dono do assunto,…”

João: “… quem inventa é”.

 

*Alan Miranda é jornalista e ex-aluno do curso. 

 

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Postado em 03/11/2020 - 22:33 - Atualizado em 16/11/2020 - 14:06