O que é pesquisa na universidade?

A pesquisa compõe o tripé ensino, pesquisa, extensão, que é basilar para a estrutura acadêmica universitária, e por meio dela o conhecimento é ampliado e aprofundado. Desde que ingressam nos cursos de graduação, os alunos podem participar desse universo com a produção do Trabalho de Conclusão de Curso, com a Iniciação Científica, além de pesquisas desenvolvidas nas próprias disciplinas, onde aprendem a refletir sobre as diversas dimensões da realidade. A partir de análises reflexivas, que relacionam os aspectos objetivos e subjetivos, a pesquisa tem uma importante função na formação discente, na medida que amplia a visão de mundo e ajuda a construir sistemas de pensamentos que podem atuar diretamente na vida social. A pesquisa tem seu lugar na graduação e na pós-graduação e quem a abraça, segue como pesquisador pela vida toda, pois sempre há o que se desvendar por ai.

 

Projetos de pesquisa do curso

Escuta jornalística: seleção e tratamento das fontes

Ana Lúcia Vaz

O objetivo principal desta pesquisa é investigar modos de produção da reportagem, com foco na seleção e tratamento das fontes. Por este caminho, pretende-se identificar as subjetividades que constituem os procedimentos técnicos profissionais, contribuindo para o desenvolvimento de técnicas de entrevista e pesquisa sensíveis. O processo de seleção, entrevista e edição das fontes, no trabalho de reportagem são reveladores de escolhas pouco conscientes, que expressam subjetividades implicadas no trabalho de pesquisa da reportagem, para além das intencionalidades em jogo. Alguns resultados (“A Luta pelo controle da informação nas redações cariocas (1979-1981)”, 2019, PPG-História/UFRRJ) apontam para a possibilidade de reconhecer a complexidade das relações de poder entre os diferentes agentes que atuam no campo do jornalismo, em diferentes contextos históricos. Atenção especial é dada às fontes orais, agentes, também, deste campo de luta.

Como desdobramento, a pesquisa também se debruça sobre metodologias de ensino do Jornalismo. Especialmente a partir da criação, em 2016, da revista-laboratório Maritaca, produzida pelos estudantes de segundo período do curso de Jornalismo da UFRRJ. A prática da grande reportagem, realizada em grupo, permite a observação dos obstáculos e o desenvolvimento de metodologias de ensino da prática da escuta em profundidade no trabalho de entrevista. O objetivo pedagógico é contribuir para a reflexão e experimentação de um fazer jornalístico que contribua para o reconhecimento e aproximação entre os seres humanos em sua diversidade, rompendo com a lógica do estranhamento como centro do olhar sobre o outro.

Algoritmos e Datificação na mídia  contemporânea

André Fabrício da Cunha Holanda

Esta pesquisa aborda a mediação de dispositivos informáticos tais como algoritmos e bases de dados no ecossistema comunicacional contemporâneo. O objetivo é problematizar a autonomia dos agentes humanos e institucionais do campo midiático em relação a estas conexões com o mercado das tecnologias de informação em um contexto marcado pela datificação e midiatização da vida cotidiana. Abordamos, em particular, transformações nas práticas de produção e consumo do jornalismo, a exemplo do jornalismo de dados, assim como a aplicação de algoritmos e inteligência artificial à escrita automatizada de notícias. Necessariamente, interessam ainda os efeitos destas transformações sobre a esfera pública nas sociedades democráticas como forma de avaliar a influência do nosso objeto de estudos sobre a configuração da Sociedade da Informação. Como resultados, pretende-se não apenas uma denúncia das interferências externas sobre o campo, mas levantar oportunidades de apropriação dessas mesmas tecnologias como meios para uma adaptação não instrumentalizada da Comunicação Social ao paradigma informacional dominante. Assumimos que a infraestrutura conceitual mobilizada para entender relações complexas entre agenciamentos humanos e não-humanos deve combinar repertórios das Ciências Sociais e do campo da Tecnologia e é com isto em mente, que partimos da Teoria Ator-rede, surgida dos Estudos Sociológicos de Ciência e Tecnologia. A metodologia de pesquisa busca, pela mesma razão, conjugar métodos computacionais de coleta e análise de dados, característicos da episteme dominante no contexto atual, com metodologias qualitativas do campo de ciências sociais capazes de dar voz à perspectiva humana situada institucional e socialmente. A análise de dados captados via estudos de caso, entrevistas semiestruturadas e mapeamentos de rede, entre outros meios, será feita através da Teoria Fundamentada de viés construtivista com o objetivo de formular uma perspectiva crítica baseada nos agentes estudados capaz de iluminar oportunidades de atuação ao mesmo tempo autônoma e integrada ao campo no contexto da Sociedade da Informação. 

 

Lugar de Mulher? Um estudo sobre violência e desigualdade de gênero em ambiente universitário (Brasil, Portugal e Reino Unido)

Fafate Costa

Esta pesquisa nasceu em 2017, com as primeiras investigações centradas na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro para acompanhar as ações do movimento das estudantes contra a violência no campus. O trabalho gerou bolsas de Iniciação Científica e de Extensão para alunas do curso de Jornalismo. Nos anos de 2018 e 2019 passei a desenvolvê-la como meu projeto de pós-doutoramento na Universidade de Warwick (Reino Unido), estudando o tema em outros países justamente por ser, a violência contra as mulheres, uma mancha histórica sem fronteiras. O projeto segue em desenvolvimento permanente, dialogando com a epistemologia feminista na produção de memórias, bem como no ativismo cotidiano pela construção de um ambiente
universitário mais justo e equânime.

 

De corpo presente: uma genealogia das marcas de autor nas imagens de violência em contextos ditatoriais

Flora Daemon

A pesquisa busca observar os indícios da presença de autor na constituição das imagens violentas a partir da perspectiva genealógica. Nos voltamos, na primeira etapa do estudo, ao acervo Registro de Extremistas, parte do Archivo Provincial de la Memoria de Córdoba, Argentina, para refletir sobre as marcas involuntárias dos agentes do Estado em imagens produzidas em um centro clandestino de tortura entre os anos de 1964 e 1992. Nos dedicamos ao que escapa ao intento de controle das fotografias prontuariais – que catalogavam indivíduos considerados perigosos –, ao focalizarmos os fragmentos de corpos dos agentes em negativos que circunstancialmente não foram descartados. Ainda que em primeiro plano se encontrem presos posicionados compulsoriamente diante da câmera, buscamos a segunda camada da imagem na qual figuram os agentes do terrorismo de Estado atados ao dolo que cometeram por meio do registro fotográfico. Ao deslocarmos a atenção para os lapsos e rastros, apostamos na conformação de um contra-arquivo que também produz sentidos e complexifica o terrorismo de Estado pela observação de tais presenças fugidias. Defendemos, assim, o entendimento de que a fotografia prontuarial, forjada na circunscrição de aparelhos clandestinos e ilegais do Estado, tenha sido convertida em mais uma etapa violenta da engrenagem repressiva da ditadura no país e, portanto, passível de análise crítica e responsabilização política.

 

Clarice Lispector e a escrita de autoria feminina no espaço da mídia impressa: uma análise dos textos para Comício, Correio da Manhã e Diário da Noite

Ivana Barreto

O projeto de pesquisa tem como sua principal proposta detectar, a partir das leituras, análise se discussões dos textos de Clarice Lispector publicados na imprensa, entre os anos de 1952 e 1961, críticas ao patriarcalismo e machismo, empreendidas pela autora, explícita ou implicitamente. A motivação para a realização do mesmo surgiu não apenas do interesse pelos escritos da autora produzidos para a mídia impressa, mas também da necessidade de refletir sobre as críticas ao modelo patriarcal e machista presente em nossa sociedade, que muitas vezes exclui, subjuga e até mesmo coloca a mulher em situação de risco, quando não de violência dos mais diferentes tipos. Além disso, interessa a oportunidade de, a partir da investigação proposta, poder oferecer oficinas que contribuam para a reflexão e o aprimoramento textual dos discentes.

 

Puritanismo e imaginário cristão: mídia, narrativa e produção de sentidos

José Ferrão

José Ferrão é coordenador do Grupo de Pesquisa MINAS – Mídia e Narrativas do Sagrado, fundado em 2019, cujas atividades estão voltadas à investigação das implicações midiáticas na construção de narrativas que compõem as manifestações do sagrado. O objetivo maior do Grupo é entender os fenômenos religiosos como gestados em práticas comunicacionais midiatizadas de indivíduos e grupos, urdidas na duração histórica e igualmente inscritas no tempo presente das manifestações da cultura. Entende-se, por isso, a necessidade tanto de refletir acerca do papel das textualidades e representações fundadoras de ideias, grupos e instituições religiosas, presentes na sociedade, quanto de buscar sentidos nos discursos e ações resultantes das tessituras narrativas que atravessam a práxis religiosa. O grupo multidisciplinar nasceu no momento de maior confluência entre mídia e religião na definição dos rumos da política no Brasil e tem sua base teórico-metodológica na interseção entre Estudos de Mídia, História, Literatura e Antropologia. (Descrição do Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq). Como parte integrante dessas discussões, o objeto de estudo de José Ferrão é o papel das ecologias oral e escrita na constituição do imaginário religioso brasileiro. Num primeiro momento, analisa a influência da palavra escrita na transposição do imaginário puritano à práxis protestante-evangélica que se desenvolveu no Brasil. Numa outra frente de trabalho, pesquisa o catolicismo popular de base oralizada e tenta desvendar seus mecanismos de construção imaginária do sagrado. Para tanto, considera a práxis religiosa como essencial e historicamente midiatizada e pretende levantar os princípios e as linhas de força desses meios e modos de comunicação ali presentes, em tempos e lugares distintos. A análise é feita, sobretudo, tendo como fonte diferentes textualidades: narrativas orais, escritas, jornalísticas, ficcionais, históricas, imagéticas, documentais. A metodologia empregada é a da História Cultural, que considera os vestígios, rastros e espaços em branco dos textos profundamente reveladores de sentidos. Utiliza referenciais teóricos da Escola de Comunicação de Toronto, da Antropologia Cultural, da História Cultural e da Literatura.

 

Educação midiática e Modos de Ação: pensar, fazer e sentir com e a partir das mídias

Rejane Moreira

O presente projeto tem como meta estruturar os referenciais metodológicos produzidos nas oficinas de leituras críticas de mídia, realizadas no Centro de Arte e Cultura, da UFRRJ. Para este intento, buscamos refletir sobre as imbricações entre a comunicação e a educação. A proposição segue ainda o princípio de que aprender a ler a mídia em espaços mais arejados e fora da sala de aula convencional contribui para a produção de mediações críticas. As mediações são processos de negociações de sentidos e entende a atividade da recepção como ponto primordial para a atividade comunicacional. Neste sentido, estão em jogos modos de sentir, pensar e fazer as mídias que compreendem a produção de múltiplos repertórios. Para complementar, nossa principal meta é, a partir do gênero leitura crítica da mídia, que tem se constituído como elemento propício para pensar práticas de intervenção nas formas de conhecer o mundo, buscar métodos de ação que estabeleçam, a um só momento, desenvolver olhar crítico e analítico sobre os conteúdos midiáticos além de favorecer a produção de múltiplos repertórios.

 

Rádios Comunitárias na Baixada Fluminense: a construção cidadã em emissoras livres e comunitárias

Sandra Garcia

A proposta da pesquisa é discutir o rádio como meio cidadão a partir de sua prática social junto aos ouvintes durante a pandemia de Covid 19. Queremos entender a forma de comunicação radiofônica e como o rádio tem trabalhado durante a pandemia. Para tanto, temos como objeto de estudo as rádios da Baixada Fluminense, comunitárias livres ou religiosas, funcionando em Frequência Modulada (FM) ou pela Internet. Escolhemos as rádios dessa região pelo fato de ser o local mais populoso do Estado do Rio de Janeiro e marcado por um cenário de falta de estrutura em vários aspectos. Um local, portanto, propício a trabalhar com elementos que levem ao ouvinte o sentimento de pertença e de cidadania. A questão que norteia o trabalho indaga: seria o rádio um meio de comunicação que consegue estar presente na vida dos moradores mesmo durante a pandemia? Mais que isso, o rádio pode ser o instrumento que levará ao ouvinte as ferramentas necessárias para exercer sua cidadania durante esse período? A hipótese parte do princípio de que o rádio é um veículo presente e falante nas cidades urbanas e rurais e, portanto, pode e deve ser o meio que incentiva uma prática cidadã. Desta forma, o principal objetivo é apresentar um cenário das rádios livres e comunitárias na Baixada Fluminense e mostrar quais municípios estão envolvidos com essa experiência radiofônica, seja de forma analógica ou digital.

 

Postado em 24/03/2021 - 15:31 - Atualizado em 24/03/2022 - 15:31