Simone Orlando*
O PET (Programa de Educação Tutorial) é um projeto educacional robusto do governo federal, subsidiado pelo MEC desde os anos 70. É voltado para as IES (Instituições de Ensino Superior) públicas e privadas, de norte a sul do país. Geralmente, cada PET é formado por um tutor (docente da instituição), 12 bolsistas (e pode se estender a 06 não-bolsistas), que, em comum, possuem projetos voltados a desenvolver um entrelace entre os campos do ensino, pesquisa e extensão.
Antes de me tornar tutora PET na UFRRJ, conhecia muito pouco sobre o universo interdisciplinar, coletivo e plural desse programa. Apenas a partir do que meu colega Mário Newman, companheiro do DLC, hoje ex-tutor, me dizia a respeito, sempre de forma entusiasta.
O PET começa de modo muito embrionário, no ano de 1979, em plena ditadura militar, como uma política de estado e com a declarada missão de ajudar alunos com bom desempenho acadêmico nos cursos de graduação a se prepararem para as pós-graduações.
Foi durante a era Lula (2003-2010), no entanto, que o programa se desenvolveu de modo mais ampliado. O então Ministro da Educação, Fernando Haddad (que já foi tutor do PET Ciências Sociais, em 1998, na USP), propôs redirecionar o trabalho para apoiar não só estudantes com habilidades destacadas, mas também aqueles em situações de vulnerabilidade social. Daí que foi criado o programa PET na modalidade “Conexões e Saberes”, além do tipo “Curso”. O investimento na ampliação do programa fez com de 328 passasse a se contabilizar 841 grupos, em 121 instituições de ensino, nesse período.
A UFRRJ tem hoje 16 grupos PET, distribuídos em seus três câmpus (Seropédica, IM e ITR). A visibilidade das ações desses grupos, entretanto, ganhou um tônus diferente quando o curso de Jornalismo “chegou junto” para colaborar em diversas ações, principalmente nos processos de divulgação desses programas.
O ano de 2017 foi o marco zero para selar uma parceria afetiva e compromissada que viria para ficar. Foi quando novos discentes de Jornalismo foram escolhidos para compor o grupo PET Dimensões da Linguagem.
Eu, nesse momento, tutora recém-selecionada para coordenar esse grupo, ainda não teria ideia por onde poderíamos caminhar. Um dos carros-chefes principais passou a ser a promoção de ações que ajudassem esses 16 programas da Rural ( à época 14) a se tornarem mais conhecidos na própria universidade e além.
Nesse período, entraram, por processo seletivo, os alunos Rômulo Silva, Bárbara Amorim, Marieta Keller e Gabrielly Pereira, todos graduandos de Jornalismo. Com a presença dos quatro, algumas atividades dos outros grupos começaram a ser mais evidenciadas em mídias audiovisuais, fotográficas e textuais. Releases sobre as ações coletivas começaram a ser projetados para a assessoria de comunicação da UFRRJ e para a imprensa de Seropédica-RJ, coberturas de eventos dos grupos passaram a ser frequentes.
Bárbara deu um emocionante depoimento em vídeo sobre sua relação com o programa (veja no YouTube). Para ela, foi muito especial participar do PET Dimensões, principalmente como repórter e editora de conteúdo. Ela se formou em 2019.
A professora Cecília Figueiredo, do curso de Jornalismo, ainda em 2017, ofereceu a oficina “AMPLIANDO O OLHAR SOBRE A LINGUAGEM FOTOGRÁFICA”, aos estudantes do programa, em dois encontros no mês de maio. Como desdobramento, parte do grupo foi visitar o Quilombo São José (Valença-RJ), junto a outros estudantes do curso e do grupo PET Etnodesenvolvimento, para ensaio fotográfico sobre a Festa do Jongo, no mesmo período.
O primeiro evento de produção de matéria audiovisual realizada pelos petianos de Jornalismo se deu com o projeto ME LEVA ICHS, em que foi produzido um vídeo sobre a ida de estudantes da UFRRJ à Bienal do Livro 2017, ação de extensão organizada pelo grupo PET Dimensões em parceria com a direção do instituto.
Ainda em 2017, três petianos fizeram a cobertura do evento SAÚDE GLOBAL, organizado pelo grupo PET Veterinária da UFRRJ e apoiado por todos os demais grupos da instituição. Nos anos de 2018 e 2019, continuaríamos com a proposta de divulgar e cobrir o evento. Parceria que não se desfez.
Em novembro daquele ano, um novo destino para o mesmo projeto trouxe mais um registro audiovisual conduzido pelo estudante Rômulo Santos. Dessa vez, a ida a Brumadinho (muito antes do desastre ambiental sem precedentes, em 2019) marcou a trajetória de 76 participantes, dentre os quais 12 graduandos de jornalismo e 05 professores do curso (Rejane Moreira, José Ferrão, Simone Orlando, Maitê Blancquaert, Tatiana Lima). O objetivo dessa viagem foi conhecer o Parque Inhotim, um dos maiores museus a céu aberto da América Latina.
De abril a junho de 2018, um desenho preliminar de arquitetura informacional reformularia a ideia de união entre os grupos PET da Rural. Os alunos de jornalismo Jean Mendes e Karem Bandeira, como estagiários daquele período, ajudaram a planejar o design editorial de um site que serviria como um portal de conteúdos sobre todos os grupos PET da UFRRJ.
O Portal dos Grupos PET, subdomínio da página dos Grupos PET Rural da Prograd, foi idealizado por esses dois alunos, com a colaboração do petiano do programa e estudante de sistemas da informação Lucas Vieira. Além de Bárbara Amorim, Marieta Keller e Gabrielly Pereira somarem ao projeto, duas novas integrantes atuariam nessa empreitada: as graduandas de jornalismo Raíssa Amaral e Jhully Monteiro. O estudante de jornalismo Vinícius Alves (famoso “Sergipe”) também colaborou com esse trabalho e foi o porta voz desse trabalho, na inauguração do site realizada em julho daquele ano.
Ainda em 2018, a paixão pela literatura falou mais alto e levou 10 discentes do grupo PET Dimensões à FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty), entre 25 e 29 de julho. Novamente, o projeto ME LEVA ICHS, organizado pelo grupo, orquestrou a ida de estudantes do instituto ao evento, o que foi muito enriquecedor para a formação desses graduandos.
O início de 2019 foi marcado pela realização do Sudeste PET na UFRRJ, o maior evento regional de encontro entre os grupos PET do país. Com cerca de 500 inscritos, o evento contou com a participação ostensiva de petianos e estudantes de jornalismo, na divulgação em redes sociais, site e também cobertura do evento para a própria universidade e fora dela. Foram mobilizados diversos estudantes para a empreitada. Jhully Monteiro foi a coordenadora geral de cobertura e sob sua batuta uma equipe de graduandos de diversos períodos trabalharam no evento.
Jhully, que hoje é editora de redes sociais dos projetos do grupo, descreve a experiência com o PET como algo ímpar para sua trajetória universitária. “O PET, para mim, se tornou muito especial, pois foi através dele que consegui me desenvolver como profissional e também como pessoa. Além de toda a bagagem de conhecimento, me abriu portas e me fez me conectar com pessoas de todo Brasil e principalmente ter a minha primeira experiência de coordenadora de uma equipe, de escrita de resumo expandido e apresentação de trabalho”, explica entusiasmada a estudante.
Raíssa, que também participou ativamente do evento, reforça a ideia de que o programa também a ajudou a fazer muitas amizades. “Participar de eventos tão grandes como o Sudeste Pet e Enapet me fez perceber a potência do programa em todo o país. Aprendi que o PET move a Universidade e o seu entorno com projetos incríveis, e também luta por uma educação acessível para todos. Em relação à minha atuação individual no programa, escrever matérias, entrevistar integrantes de outros grupos, fazer parte do projeto inovador que é o Portal dos Grupos PET, tem sido ótimo”, reflete.
Em meados de 2019, o PET Dimensões ganhou mais 2 integrantes do curso: Beatriz Santana e Carina Alves. Muito prestativas e pró-ativas, as duas estudantes trataram de colaborar com projetos da equipe, com garra e afinco. Para Beatriz, o programa foi a primeira experiência prática na universidade. “Hoje eu entendo que o PET me permitiu crescer e ter responsabilidades bem cedo. Levo para a vida e para o mercado de trabalho todo aprendizado que obtive de forma saudável e construtiva até agora. Acredito que o PET é um programa que incentiva o aluno a ser ativo dentro da universidade e já permite o primeiro contato profissional e prático com o seu curso”, explica.
O ano de 2020 nos atravessou de modo avassalador. A pandemia trouxe angústia e estarrecimento. Trouxe também a virtualização das práticas de trabalhos e projetos. E, nesse contexto, o PET Dimensões precisou se reinventar. Junto a Beatriz e Carina, Raíssa e Jhully assumiram novas funções. Beatriz se debruçou num lindo projeto de clipagem de mídia. No Instagram do grupo PET Dimensões, tratou de dar ânimo aos leitores, reunindo notícias positivas sobre a Covid. O projeto começou em maio e já reuniu mais de 150 posts a respeito. Também está auxiliando outros petianos a fazerem suas lives sobre Pandemia e profissões, no mesmo canal do Instagram do grupo.
Carina, por sua vez, debruçou-se sobre um novo desenho para o site do Portal dos Grupos PET. Sua experiência com design gráfico lhe permitiu recriar: repensar cores, imagens, artes, disposição das informações. Atualmente, também desenvolve clipagem de notícias para o Instagram do Identidades, subprojeto do grupo PET Dimensões voltado a ações de pesquisa e extensão sobre o saber negro e a temática da negritude.
Raíssa, na mesma medida, ocupou-se de tornar-se a editora geral do portal, e, semanalmente, coordena a produção de matérias para o veículo, supervisiona o trabalho voluntário da graduanda de Jornalismo Polyana Ferreira, além de auxiliar nas artes, produzir entrevistas e organização das 16 lives que estão sendo realizadas com os tutores do programa na universidade, no canal do Instagram @grupospetrural, nesse semestre. A estudante Amanda Beatriz Silva Lopes, atualmente no 5o período, também está somando à equipe como estagiária, na produção de perfis sobre petianos e ex-petianos.
Jhully Monteiro coordena as redes e mídias sociais do projeto (Instagram, Facebook e YouTube), tendo a também estudante de Jornalismo Karollyne Dias Ferreira, sob sua supervisão para o trabalho voluntário nessas redes.
Contar um pouco da trajetória dos alunos de Jornalismo no PET Dimensões é motivo, pra mim, de muito orgulho. Tivemos a sorte e o prazer de lidar com estudantes engajados, que vestiram a camisa dos projetos, aprenderam a fazer coisas novas, criaram um novo campo pra si. A mim, o programa atravessou de modo arrebatador. Justamente porque me apresentou a universidade de modo ampliado, interdisciplinar, para além dos meus pares e campos tradicionais de conhecimento. Algo que valeu ter vivido e estar vivendo.
*Tutora do programa PET Dimensões da Linguagem desde 2017 e docente do curso de Jornalismo da UFRRJ.
Postado em 26/10/2020 - 21:13 - Atualizado em 18/11/2020 - 09:56