Aureliano Lopes da Silva Junior

 

Tem experiência na área de Psicologia, principalmente nos seguintes temas: corpo, saúde, educação, gênero, sexualidade e modos de subjetivação.

Projeto: Acesso à origem e direito à história: reprodução assistida e adoção

Família e sexualidade se cruzam de várias formas. Não apenas porque tradicionalmente a produção da família se dá através do sexo, mas por conta das inúmeras regulações da sexualidade presentes em nossa sociedade, em nome da preservação da família, inscritas no que Foucault chama de biopolítica. A necessidade de nomeação e a determinação da biologia nos formatos de família presentes ainda hoje, apesar dos avanços tecnológicos e jurídicos, marcam as concepções de parentalidade que nos formam. Inicialmente pensada para oferecer a possibilidade da parentalidade para casais heterossexuais com problemas de fertilidade, a reprodução assistida, em suas várias modalidades – inseminação artificial, fertilização invitro, barriga de aluguel/gestação de substituição – é cada vez mais pensada também como saída para casais de pessoas do mesmo sexo e pessoas solteiras que pretendem ser mães ou pais. No ano de 2019 foi intenso o debate francês a respeito da extensão da reprodução assistida para casais de lésbicas e o fim do anonimato dos doadores de gametas. Através de uma perspectiva cartográfica de pesquisa, pretende-se (1) acompanhar casos de pessoas sozinhas ou casais que utilizaram útero de substituição no Brasil; (2) conhecer a dinâmica parental de casais de homens e casais de mulheres que tiveram filhos através de reprodução assistida, utilizando o genes heterólogos e homólogos simultaneamente; (3) conhecer a dinâmica parental de casais heterossexuais que se utilizaram de genes heterólogos, sempre com o objetivo de pensar de que forma a noção de origem está conectada com a produção de verdades sobre a parentalidade e como o peso e a importância dos vínculos biológicos são negociados.

Projeto: Jovens Vivendo com HIV/AIDS em tempos de Covid-19: vulnerabilidade social, adesão ao tratamento e adoecimento psíquico

O Projeto aciona as metodologias qualitativa e quantitativa integradas para investigar questões relativas à saúde mental de jovens vivendo com HIV/AIDS (JVHA) em tempos de pandemia de COVID-19, seus impactos no cuidado pessoal e na adesão ao tratamento. Os JVHA já enfrentam muitos desafios no convívio com a infecção pelo HIV/AIDS, com destaque para os impactos pessoais e sociais do estigma da doença e dos efeitos colaterais da terapia antirretroviral (TARV) na rotina, nos cuidados com o corpo e com a sexualidade. Não são raros entre os JVHA relatos de abandono de tratamento e de ansiedade e depressão, sendo comum o uso de psicotrópicos associado à TARV. As dificuldades na adesão têm gerado desfechos indesejáveis como adoecimento e até mesmo a morte prematura. A entrada do COVID-19 no cenário brasileiro pode significar uma maior ameaça para pessoas com algum comprometimento imunológico. Existe a possibilidade desta situação, excepcional, agravar dificuldades emocionais prévias e/ou deflagrar novas, com graves consequências à saúde física e mental de JVHA. A população de estudo reúne cerca de 750 JVHA ativistas moradores do estado do Rio de Janeiro, maiores de dezoito anos, pertencentes a uma rede social digital definida em torno da vivência com o HIV/AIDS. Os jovens serão convidados a preencher um questionário de cunho quali-quantitativo, com questões relativas à adesão, vulnerabilidade psicossocial e à saúde mental desse grupo nos tempos de pandemia. Pretende-se com este trabalho dar visibilidade a este segmento populacional no contexto atual, bem como, produzir resultados que possam subsidiar políticas públicas voltadas a este segmento.

Projeto: O uso de silicone líquido industrial entre travestis e mulheres transexuais: sentidos e protocolos de atendimento na saúde pública brasileira

Este projeto integra a dobra/linha Saúde, Corpo e Subjetividades do GEPSID e objetiva uma análise dos protocolos de atendimento clínico e propostas terapêuticas a travestis e mulheres transexuais que possuem o chamado silicone líquido industrial em seus corpos, na atenção integral à sua saúde. Este recorte se deve a diversos estudos acadêmicos que tanto corroboram a informação sobre o recorrente uso de silicone líquido industrial pela ?população trans? feminina brasileira (Carrara et al, 2018; Magno, Dourado e Silva, 2018; Rocon et al., 2018; Vartabedian, 2018 e 2016; Silva Junior, 2016; Dourado et al, 2016; Pinto, et al., 2015; Santos, 2014; Duque, 2013; Pelúcio, 2009; Kulick, 2008; Benedetti, 2005; Peres, 2005; Silva, 1993) como também descrevem certo ?não-saber? do campo biomédico como um todo na efetiva prevenção de riscos e redução de danos à saúde desta população (Pinto et al, 2015). A literatura do campo biomédico voltada para o uso de silicone líquido industrial, em quase sua totalidade, se restringe a apontar seus riscos e condenar tal prática (Lopes & De Morais Siqueira, 2013; Fraga, Castro, Perin e Helene Junior, 2007; Mello et al., 2013; Pereira et al., 2015; Romano, 2008). Deste modo, se faz ausente uma reflexão mais apurada que, a partir dos sentidos da recorrência de seu uso e impactos na saúde da população trans feminina, possa colocar esta questão em análise junto a profissionais de saúde, intentando construir protocolos de atendimento que possam responder às efetivas demandas desta população no que tange às suas modificações corporais e construção do gênero.