Curso de Extensão “A finitude do Mundo na obra Ser e Tempo de Martin Heidegger em diálogo com o pensamento da Decolonialidade” | Profa. Dra. Manuela Saadeh (PPGFil-UFRRJ)
A finitude do Mundo na obra Ser e Tempo de Martin Heidegger em diálogo com o pensamento da Decolonialidade – Profa. Dra. Manuela Saadeh (PPGFil-UFRRJ)
Período do Curso: 09/12/2024 a 27/01/2025
Espaços de Realização: Ambiente virtual
Responsável pela Ação: Profa. Dra. Manuela Saadeh (PPGFil-UFRRJ)
E-mail do Responsável:santosmanuela0@gmail.com
Inscrição: 27/11/2024 à 06/12/2024:
https://sigaa.ufrrj.br/sigaa/link/public/extensao/visualizacaoAcaoExtensao/5665

Apresentação do curso
Martin Heidegger em sua obra Ser e Tempo, fenomenaliza a estrutura da compreensão do Ser enquanto isto que determina o homem enquanto Dasein – não mais o homem enquanto Sujeito – como ser-no-mundo. Enquanto tal, este ente se manifesta histórico e circunscrito, e isto quer dizer que não há eternidade para a verdade e o conhecimento tão pouco infinitude; a compreensão humana se determinaria por sua finitude enquanto circunscrição de significação e de Mundo; e enquanto mutante, possível, porquanto sempre já estruturalmente histórica.
Para compreendermos o que Heidegger pretende com tais postulados, contrários aos fundamentos de toda a História da Metafísica – uma vez que esta pressupõe a verdade (o Ser) como universal, válida e eterna – temos que nos inteirar propriamente tanto dos momentos fenomenais que compõem a analítica existencial do Dasein, quanto dos motivos históricos desde os quais a Metafísica enquanto verdade do ente na totalidade se instaura no pensamento humano como pensar unânime, universal e atemporal.
O curso será ministrado em formato virtual com um encontro semanal, sempre às segundas-feiras das 18:30 às 20:00hrs, através da plataforma Microsoft Teams. Estão previstos sete encontros conduzidos pela professora responsável, com início no dia 9 de dezembro de 2024 (exceto dia 30/12) e término no dia 27 de janeiro de 2025. A carga horária total será de 20h.
Dinâmica do curso
O curso será ministrado em formato virtual. A exposição do tema pela professora responsável terá duração de 70 minutos. Após, os alunos serão convidados a participar por meio de perguntas e comentários. Serão disponibilizados com antecedência os textos que serão estudados em cada aula.
Público-alvo
Alunos de graduação e de pós-graduação em filosofia da UFRRJ, bem como alunos de graduação e de pós-graduação de outras universidades e quaisquer pessoas interessadas em Filosofia contemporânea, Martin Heidegger, Metafísica e História da Filosofia.
Objetivos
O objetivo do curso é trabalhar os conceitos mais fundamentais em Ser e Tempo e se dividirá (como a obra) em duas partes. O objetivo da primeira parte do curso é trabalhar os conceitos existenciais liberados pela analítica do Ser do homem pensado por Heidegger como o Dasein (ser-o-aí) a partir do fenômeno ser-no-mundo, e isto com o intuito de transcender propriamente até as estruturas mais elementares do Ser deste ente, para que a possibilidade de compreensão da estrutura do ente que nós mesmos somos se torne visível. Sendo o Dasein o único ente que detém a compreensão do Ser, a qual se institui desde a estrutura: Ser projetivo já em um Mundo junto ao ente intramundano encontrado, esta analítica fenomenológica da compreensão humana é o passo primário necessário para a compreensão da questão que se pergunta pelo sentido do Ser de todo, que é a questão posta no princípio do tratado Ser e Tempo. Em Ser e Tempo, o filósofo procede sua analítica existencial do Ser do Dasein, enquanto este ente que nós mesmos somos. Em tal analítica o pensamento desmembra pormenorizadamente todos os momentos fenomenais que compõem a estrutura da compreensão do Ser, os quais se movimentam simultaneamente, mas devem ser identificados em uma analítica. A partir de tal analítica, podemos tentar compreender os conceitos de finitude de Mundo de sentido, circunscrição de sentido, e a questão do Ser, como um dar-se finito enquanto verdade; o que nos leva a pensar sobre a descolonização de Mundos de sentido, uma vez que impor um Mundo de sentido sobre outro não implica em conceber que não houve a singularidade própria (verdade, Ser) a tal e tal contexto de existência.
Resumo
Se como ensina Heidegger, a essência do Ser, é o nada de coisa alguma; se, por conta disto aqui mesmo, não se o pode representar como um ente; se, com isso, o Ser só poderia se determinar pela liberdade, uma vez que não é ente algum sendo a pura possibilitação de possibilidade, então a essência do Ser, a essência da verdade, é a liberdade. E isto quer dizer tão somente que a verdade, o Ser, é o próprio sentido de Acontecimento [das Ereignis]: o velamento-desvelamento. Velamento porquanto seja sempre em essência o escuro do nada de ente possibilitador da clareira enquanto as possibilidades de Mundo que permitem que o ente na totalidade apareça enquanto tal e desvelamento consequente manifesto desde essas possibilidades no dar-se do Ser já enquanto sentido histórico-circunscrito (ente): Mundo instituído, a cada vez, em cada povo.
Essa estrutura do Ser e da verdade enquanto liberdade, nos ensina que não há a possibilidade uma verdade histórica (de um povo) que possa ser universal para todos os Mundos de sentido; justamente porque o Ser do Mundo é a sua finitude enquanto circunscrição, de modo que cada povo, cada Mundo tem sua verdade do Ser tão verdade como todas as outras de outros Mundos de sentido por conta da estrutura do Acontecimento do Ser. Não há portanto aqui para teorias sobre a evolução: pois esta já sempre pressupõe que a verdade e a significação acerca do ente na totalidade vem evoluindo, do mais baixo para o mais complexo; e neste complexo estaria a verdade mais verdadeira. Assim pensa o Mundo da tecno-ciência europeia que se manifesta, hoje, planetariamente. Daí a ilusão de que a verdade do Mundo de sentido eurocêntrico seja a verdade “evoluída” que os povos “primitivos” não puderam alcançar; de onde também surge o sentido de supremacia.
Programação (cronograma)
Aula I (09/12/24) – Introdução à estrutura da compreensão do Ser enquanto ser-no-mundo na primeira parte da obra Ser e Tempo.
Aula II (16/12/24) – Continuar explanando acerca da estrutura da compreensão pormenorizada em Ser e Tempo enquanto possibilidade ontológica da linguagem e da História. Começar a pensar a intramundaneidade do Ser e da verdade, portanto, sua finitude enquanto Mundo de sentido em oposição à universalidade e atemporalidade do Ser metafísico.
Aula III (23/12/24) – Problematizar como Heidegger pensa a lida do Dasein com o ente que tem a forma do seu Ser (alteridade) e com os outros entes que não a tem para começar a compreender a temporalidade da compreensão.
Aula IV (06/01/25) – Apresentação do problema da não-subsistência do Ser do Dasein em oposição ao Ser do homem enquanto Sujeito subsistente de conhecimento e vontade. dos problemas fundamentais da segunda parte de Ser e Tempo, quais sejam: A Morte, A Deliberação, o débito, e a estrutura não-subsistente do Ser do Dasein.
Aula V (13/01/25) – Pensar este sentido metafísico (o pressuposto da atemporalidade e universalidade) para o Ser em oposição aos existenciais heideggerianos, os quais encerram a metafísica imputando o ser-no-mundo, o Mundo de sentido histórico-circunscrito e, portanto, inserindo pela primeira vez na história da filosofia a temporalidade, historicidade e finitude para o sentido do Ser.
Aula VI (20/01/25) – Continuar a explanação da aula V.
Aula VII (27/01/25) – Revisar todo o curso visando mostrar a temporalidade da compreensão humana, a sua pretensão implícita de uma verdade (Ser) atemporal e universal ao longo de 2500 anos nas mais diversas figuras ontológico-metafísicas, isto é, enquanto pressupostos atemporal e universal para a verdade. Evidenciar a contraposição radical de Heidegger a tal universalidade e atemporalidade para a verdade, para o Mundo, para o ente na totalidade, para o Ser; o que nos levaria a dialogar propriamente com uma descolonização do pensamento humano.